sábado, 29 de agosto de 2009

Sente

A água quente derrama fogo
E inunda minha alma
Molha-me todo
Espera e pára
A água quente derrete meu corpo
E minha alma salta
Cria forma num sopro
A sorver em febre alta

Molho meu olho quente
Não sei se pelo fervor da água
Ou a ardência latente
Não sei se pelo furor da mágoa
Ou o coração dormente

Olho meu olho molhado qual enchente
Só sei que minha única arma
É aquilo que se sente
Só sei que o que me cala
É agora e sempre

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

acalma coração.

Satisfação Fúnebre

O meu tato abre nova fresta
Pra eu escolher o meu alvo
Apontando o medo na minha testa
Antes mesmo de estar a salvo

O corpo que eu toco não me toca
Procuro meus meios de detê-lo
Quase cinco horas e não volta
Só me resta agora desespero

Vejo ao meu redor mas não enxergo
Uma outra forma de sorrir
Já sei que me deixa ficar cego
Sinto que a hora de partir

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Amargo Deleite

Não sou como rês
Que ecoa pelos cantos
Eu só como três ou mais
Filetes de pranto
Conquanto eu quisera
Um pouco mais que já era
De pedaços em meu olfato
Filetes no prato
Degustando cautelosamente
Cada dor que sentira no ato
Em que, emblematicamente, me bato
Me mordo, me mato

Não só como rês
Como também vez ou outra
Um bípede de quatro
Em kama sutra
Que analiso meus olhos fartos
Cansados de gritos e tatos
Ou mesmo truta em outros garfos
Facas, colheres

Sinto fome, pois,
Sinto sede depois,
Reponho a ledo engano
Aminoácidos, transformando
Os braços flácidos em metano

Mas, de mês em mês
Sou como rês à três,
E suo outra vez
Quero todo dia um pouco de verdade
Pra um pouco tarde
Esperar um só um dia
De todo dia que arde
Um dia e pouco
Ou meio-dia

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A imagem que me toca

Fotografia: Thalita Covre http://www.flickr.com/photos/thalita_covre/

Vou ao encontro desse vento despretencioso. Balançando tão sutilmente os cabelos, quanto meu coração. Paz. Seja sobre a grama fresca e limpa. Seja pegando esta menina no colo. Que anda sem pressa. Sem pretensão. Sem a pretensão de ser o centro das atenções. Não há um centro. Há um conjunto de importâncias. Seu vestido sutilmente levado pelo vento. Seus cabelos esperando o calor chegar, para tocá-los. Mas não há calor. Neste momento há paz. Há o céu azul. Azul. Bem azulzinho. Espero a caminhada da pequena em busca de novas fotos. Como as tiradas pelos também fotógrafos, ao fundo. Fundo não menos importante. Dão a homogeneidade e horizontalidade dos meus olhos. Me guiam. Me fazem perceber que uma imagem não se faz de um centro belo. Uma imagem se faz com paixão nos olhos e percepção singulares. Obrigado por me tocar.

Gabriel Ramos

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Espero por mais um dia quente, sempre quente, intermitantemente, nos dias frios em que me aqueço e me esqueço de poder contar quantos dias quentes vou viver. Saber ter ou ser um febril ao arder do azul anil pelo dia frio. O dia a fio. Conta-gotas.

domingo, 9 de agosto de 2009

respiração ardendo uma na outra, fogo. queimo os olhos foscos. rio. por um fio a navalha que corta me cortou, me fez doer, doer de sentimento bom. que dá e dói.
ranhuras que ardem, calafrios. sorrisos. nada do que foi, era um ontem. era por arder, ser a ânsia de ser.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

tanta sede de ser, querer ser, ter, ver. ser como o mar que balança e agita, que expulsa e grita, cada suspiro e anseio, cada viagem e passeio. preciso ser como o ar que rasga a voz e explode aqui dentro do peito, de vontade, de saudade. talvez tanta vez quis ser um outro ser que não cabia mais em mim, mas que sei, cabe sim, cabe sim aqui dentro ainda um outro novo rapaz. tanta carícia, tanta preguiça, tanto medo, tanto sentimento aqui dentro. na verdade só quero algo novo, algo bobo, algo que simplesmente me faça rir, me faça dizer que vale a pena. me faça ver que mesmo pequena, possa ser única e por ser única me fará único. não me importa o que pareça: cresça e aconteça. porque aí sim, tanta sede de ser, tanta vontade, saudade, serão sinônimo de verdade.