terça-feira, 29 de dezembro de 2009

me ajoelhei,
fiquei forte forte
olhei pro céu grandão a me esperar,
a me abraçar
tangia-me o corpo a sensação de plenitude
e paz
encontrei meu corpo em sinergia com o mundo
não preciso de nomes,
só de sentimentos
só eu sei o que senti,
e quero continuar sentindo

"agora, feche os olhos
e respire meu sopro,
o nosso sopro"
sozinho
em silêncio sublime
inspiro o ar que sai expirado
sinto como se eu soubesse quem sou
sinto como se eu esperasse ser
sei que sai de mim algo meu
não sou só experiência de uns
e produto de outros
quem fez meu sorriso?

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Salve, Jorge

Todas perspectivas audazes de minutos inexequíveis - e que tanto me entristeci por sê-los - me corroem por sobre os ombros, através de ricos pensamentos difusos. Todos caminhos maltratados, deixados à mercê de meus olhos mareados que, por aquele instante, souberam aproveitar seu foco, não o foram na real. Foram dignos a me mostrar indigno de tamanha veracidade, voracidade com que os famintos por sabedoria demonstravam precisar mais do que eu.
Mas juro que sorrio sempre quando vejo tamanha destreza e sapiência. Salve, Jorge.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

por isso que falam da esperteza

eu não sou esperto
como quem, de perto e reto,
enche o peito certo, todo ereto,
grita como quem sabe gritar
com toda a força saindo no ar
"eu sou melhor que você"
não, não sou esperto
sou como quem, dislexo e quieto,
se amontoa sob o concreto do teto
grita tanto que ecoa dentro de si
e só se ouve o pensar assim
"eu sou pior que você"

esperteza é a silhueta que guardo na ponta do nariz
feliz

a culpa não é do filho da puta

eu não tenho culpa
portanto não posso pô-la na puta
tampouco no filho dela
que da janela
sai dando adeus
"adeus, deus
desisti de tua luz
pra que tanto
se só me caibo em pranto"
ele não tem culpa
então não pode dá-la pra puta
pois sua mãe ela é
e com tanta fé
sai dizendo adeus
"adeus, deus
desisti de tua luz
pra que tanto
se só me caibo em pranto"

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

armar uma trama como um drama trabalhoso
melodiosamente maltratado e dramático
vulgo melodrama
trama difusa em drama sisudo
tal qual abrir a guarda feito a chuva é guardada
numa só trama de guarda
ou guarda-chuva
que suga suga suga a chuva guardada
tramada tramoia

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

meus olhos passam
piscam
e param
passam como as cinzentas nuvens
piscam como os brilhosos relâmpagos
param como a fina chuva

meus olhos passam
piscam
e param
passam como o trem feroz
piscam como as faíscas dos trilhos
param como o senhor sentado ao lado

meus olhos passam
piscam
e param
passam
passam feito passarim
piscam feito o bater das asas
param como um beija-flor no ar

meus olhos passam
piscam
e param em você

domingo, 6 de dezembro de 2009

parto agora do princípio insípido estúpido
que insisto em te apalpar, te paparicar pra te incitar
excitar,
pra te partir em duas
tuas duas você em mim por dentro
por fora
nuas agora em mim porcento cem
portanto, vem
participar pra cá

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

só não faço explodir essa dor, essa dor de rasgar a gengiva,
só não mato, não sinto e não cheiro essa cor, essa cor tão viva,
que se esvai de mim num frenético sentir assim que se vai
só não faço porque não posso, não sai
não posso porque realmente não faço e não sinto fazer
não quero fazer doer
quero gritar enfim, quero colocar esse fim aqui
sem querer finalizar em mim