terça-feira, 29 de setembro de 2009

madrugada morna

sentado, rente ao horizonte,
que limita meus olhos pequenos,
percebo verdades aos montes,
oriundas mais ou menos
dos leitos de que insisti em sorrir
porque quando estou com sono, sorrio
ao esperar o que há de vir
meus pés quentes pisam na areia morna e no rio
não sou lá grande filósofo, mas devaneio sim
procuro, sozinho, pedaços soltos por cá
- espero um pouco mais de mim -
mas acho mesmo é que vou me deitar
esperar o dia raiar e dormir:
sem me lembrar do fim

domingo, 27 de setembro de 2009

Uma Dama Deitada na Cama

I
Uma dama deitada na cama
Dorme profunda e vagarosamente
Observo-a com a calma de uma serpente
Em bote-surpresa na grama

II
Quando eu ia dormir
Me deparei com seu sorriso e seu olhar
Quem disse que consegui
De fitar essa dama, parar?

III
Ela dorme feito uma bobona
Ela dorme como uma babona
E eu sou um bobão
E mais: um babão

IV
Mas será que ela vai acordar logo?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Vai, vai logo!
Sai, sai logo
Qual lágrima que arde aqui
Descendo
Escorrendo
Fica, fica aqui

terça-feira, 22 de setembro de 2009

cálculo renal

obs: cálculo significa "pedrinha" em latim.

gaiola presa na garganta que molha
molha e arranca pedaço de orelha
que rói e é roída
é foda ser um louco puto cheio de ferida
é foda ser um pouco mudo alheio à vida
gaiola prende a garganta que olha
olha o céu arranhado a todo tempo
torta arquitetura tarada por momento
tração, flexão, compressão
me sinto sendo impulsionado a falar: puta que o pariu, que merda é essa?
essa porra que me corrói os olhos de raiva e pressa, essa porra que me vira todo às avessas.
essa engenharia de quinta que diz ser arquitetura de primeira
me faz enxergar outra coisa a não ser uma coleira
que postula e rotula,
mede e fede,
algarismos e idiotismos,
que raio de ciência é essa que me assusta, me mede, me calcula, me chuta
que raio de ciência é essa que só sabe traduzir-se
como se traduz nos rins, a pedra bruta?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

verdades

abri a boca: gritei.
não procurei fitar um novo horizonte.
quando eu grito: grito pra todo mundo me ouvir; explodo.

não tenho mais verdade. meu chão é minha verdade.
não tenho mais corpo. minha alma é meu corpo.
não tenho mais um vermelho céu. tenho-o multicolorido.

quando eu grito: grito e gemo. não quero saber o que me acontece.
passaram a segunda,
a terça e a quarta,
a quinta e a sexta.
passaram alguns sábados, alguns domingos.
eu observava agora minha nova forma de rimar,
observava com gosto minhas novas verdades.

eu cresci como um menino bobo e crente.
aquele que acredita no céu, no amor, na aventura.
eu me tornei um homem bobo e crente.
aquele que acredita no céu, no amor, na aventura.

será mesmo que cresci?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

dor de garganta

mãos trêmulas, agasalho. são lentas as preces. dói pra caralho. sem capacidade de sentir calor. agora tudo o que preciso é de um cobertor. um cheiro, uma quente cor. me imagino com um balde de água quente na cabeça; me imagino num vulcão e quero que a lava desça; me sinto sem energia. arrefecido. tudo aqui arrepia. inerte, mal trapido. constato o fato consumado: tenho frio, me bato e ardo.

domingo, 13 de setembro de 2009

Olhei-a como quem admira. Mira e acerta. Acerta com o coração batendo forte. Me fazia tremer as bases nossa transpiração. Não sei dizer. Não sei dizer o que em mim me faz sentir mais forte, gigante, esperto. Um bobo feliz. Um abraço. Um abraço que me abraça. Me abraça todo e me faz sentir que o momento é a coisa mais importante da vida. Que a vida é a coisa mais densa que se tem num momento. Olhei-a como quem admira. Mira e acerta. É como o ar que repete o sopro nasal. É como o ar que eu sinto de perto. Esperto que sou. Esperta que é. Olhei-a como quem admira e mira, e acerta. Acertei.

Serpente

Entre
Em minha alma latente
Cheire, olhe, experimente
Pulse compulsivamente
Suba qual adolescente
Que queima rente
À rima presente
Pungente

Espere
E sente
Seja onipotente
Concomitantemente
Ao inconsciente carente
Que despretensiosamente
Se faz gente
E sente

Olhe
Invariavelmente
Se atente ao repente
Que de repente o vertente
Será semente potente
Possivelmente
De outro ente
Doente

Seja
Somente a enchente
Que preenche meu corpo descrente
Qual brasa ou aguardente
Meu líquido entorpecente
Que sempre incandescente
Desce quente
E mente

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Procurei

Ora, mas agora, agorinha
Eu procurei
Por ti, novamente
Como sempre,
Como sempre faço:
Em cada esquina,
Cada quina que esbarro,
Em cada droga,
Cada guimba de cigarro,
Cada foda,
Cada experiência mal sucedida,
Que, em seguida,
Ia sempre embora
Como se eu fosse cuspida
Como se fizesse uma hora
De quando me deixou perdida

Procurei por ti em meu seio casto,
Em meu ventre farto,
Te procurei alucinada,
Te procurei alienada,
Te procurei na dor do parto,
Até em cama de gato,
Te procurei falante e calada
Te quis toda em todos quartos
Seca ou molhada
Ou só de meias três-quartos
Mas nada
Nada me fez te achar

Hoje não sei mais o que fazer
Não tenho mais o que comer
Não tenho mais o que dizer
Ou crer
Não tenho mais o que saber
O que sofrer
Hoje tudo é só passado
Mas acredite: ainda ardo
Só de pensar em você

De Fronte Aberta

Defronte o encontro
Em que me confronto de frente
Frontalmente
Me desnudo em nu frontal
E escondo
Desbundadamente
Abundâncias e coisa e tal