segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Rasga
Expurga e sai,
Grita, geme, faz doer
Arde, range, roi, solta
Tudo o que pensar que saia, sai
Vai e volta
Violeta musgo
Cheira e cai
Cambalhota acrobática em suástica
Sua, sua, que vai
Sou sua e me dispo
Rasgo
Expulso e vou
Tudo o que pensar que sou, serei
Sou sua, sou seu, sou eu quem vai
E volta num corpo meu
Ao seu silêncio
Mas pra eu me aquecer, volta aqui,
Volta procê ver
Pra rasgar de dor, essa saudade,
Essa dor de você

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Silencie cada sopro
Exaurido de dentro de si
Sentencie cada suor
Expelido por cima de mim
Espere, suba, saia

Segure meus ombros
Ao compasso da valsa
Sem abrir os olhos
Tontos em dose alta
Escute, sinta, vá

Sh!
¿Que se pasa?

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O tardar da madrugada
Que só me amedronta
Rasgada
De tamanha distância
Que meus olhos têm
De tua outra nova ânsia
Mordida
Dentro do peito de dor roído
Por meu fogo dentro de mim
Agora

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Não Sou Todo Eu que Me Caibo

Tudo que foi não é
Nem agora, nem será
Hoje o ontem tão perdido
Pelo que deixou de ser
Tudo que deixei de ser hoje não sou
Quem foi o que fui, o que serei

Ah, se eu me encontro em mim
Bem perto de ser o que conseguir
Tão perto de não saber o que seguir
A quem seguir
Por quem ser guia?

Não sou todo eu que me caibo
Me caio, contraio, saio
Tal qual o que desejo ser
E estou sendo um pouco perto

Se eu por aqui transfigurar certo
Minha loucura de hoje e agora
Estará sempre em mim

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

tudo agora veio e foi e saiu como aquela folha, que veio e soltou a poeira deixada na janela como tudo que agora veio e foi. e veio, sem freio, sem guia ou arreio. agarrei as pontas de meus dedos, arranhados e ainda por cicatrizar, à borda da janela pra ver a folha que veio e foi, como a poeira solta da janela que veio e foi por meus pulmões e agora tusso. espirro. como quem vem e vai, como quem quer que seja foi e era. simplesmente por ser e ter sido.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

segunda-feia

Armar uma forma - mesmo que disforme -
de meus pés caminharem a favor do vento duro que bate bate bate bate,
e faz calor, eu sei: faz calor demais.
Procurei histórias e fatos, cacos, buracos e farrapos pra eu me encontrar novamente
como um calhorda que procura a nova dama, enquanto a sua o espera.
Nem quero que você saiba. Mas como um invólucro duro que fica fica fica fica fica,
eu me envolvi nessa trama, armada de uma forma realmente disforme.
Quero ser dor porque a dor marca, quero ser a dor boa de doer como eu sinto quando eu lembro
que é mais uma segunda feira feia feia feia feia e você vai e vai... E foi.
Usei meus olhos pela primeira vez!
Cada hora que nos levantamos e nos damos adeus...
Tenho ódio do tempo chato que nos separa
É possível que eu seja um outro pensamento meu que não agora
É possível que eu seja também um outro pensamento meu que não agora
É preciso que eu seja também um outro pensamento meu que não agora.
fecharam todos olhos
calaram todas bocas
e, eu bobo,
tateei num cheiro incomum cada palavra que tangia teu corpo
tatuei cada sorriso na memória de meu corpo
sinto.

Soube

sabe, sou sempre eu mesmo
mesmo sabendo e o sendo sou sempre eu
sou sempre eu quem sabe
quem eu sempre soube

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O tempo é muito lento para os que esperam, muito rápido para os que têm medo, muito longo para os que lamentam, muito curto para os que festejam. Mas para os que amam, o tempo é a eternidade.

William Shakespeare

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

me ajoelhei,
fiquei forte forte
olhei pro céu grandão a me esperar,
a me abraçar
tangia-me o corpo a sensação de plenitude
e paz
encontrei meu corpo em sinergia com o mundo
não preciso de nomes,
só de sentimentos
só eu sei o que senti,
e quero continuar sentindo

"agora, feche os olhos
e respire meu sopro,
o nosso sopro"
sozinho
em silêncio sublime
inspiro o ar que sai expirado
sinto como se eu soubesse quem sou
sinto como se eu esperasse ser
sei que sai de mim algo meu
não sou só experiência de uns
e produto de outros
quem fez meu sorriso?

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Salve, Jorge

Todas perspectivas audazes de minutos inexequíveis - e que tanto me entristeci por sê-los - me corroem por sobre os ombros, através de ricos pensamentos difusos. Todos caminhos maltratados, deixados à mercê de meus olhos mareados que, por aquele instante, souberam aproveitar seu foco, não o foram na real. Foram dignos a me mostrar indigno de tamanha veracidade, voracidade com que os famintos por sabedoria demonstravam precisar mais do que eu.
Mas juro que sorrio sempre quando vejo tamanha destreza e sapiência. Salve, Jorge.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

por isso que falam da esperteza

eu não sou esperto
como quem, de perto e reto,
enche o peito certo, todo ereto,
grita como quem sabe gritar
com toda a força saindo no ar
"eu sou melhor que você"
não, não sou esperto
sou como quem, dislexo e quieto,
se amontoa sob o concreto do teto
grita tanto que ecoa dentro de si
e só se ouve o pensar assim
"eu sou pior que você"

esperteza é a silhueta que guardo na ponta do nariz
feliz

a culpa não é do filho da puta

eu não tenho culpa
portanto não posso pô-la na puta
tampouco no filho dela
que da janela
sai dando adeus
"adeus, deus
desisti de tua luz
pra que tanto
se só me caibo em pranto"
ele não tem culpa
então não pode dá-la pra puta
pois sua mãe ela é
e com tanta fé
sai dizendo adeus
"adeus, deus
desisti de tua luz
pra que tanto
se só me caibo em pranto"

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

armar uma trama como um drama trabalhoso
melodiosamente maltratado e dramático
vulgo melodrama
trama difusa em drama sisudo
tal qual abrir a guarda feito a chuva é guardada
numa só trama de guarda
ou guarda-chuva
que suga suga suga a chuva guardada
tramada tramoia

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

meus olhos passam
piscam
e param
passam como as cinzentas nuvens
piscam como os brilhosos relâmpagos
param como a fina chuva

meus olhos passam
piscam
e param
passam como o trem feroz
piscam como as faíscas dos trilhos
param como o senhor sentado ao lado

meus olhos passam
piscam
e param
passam
passam feito passarim
piscam feito o bater das asas
param como um beija-flor no ar

meus olhos passam
piscam
e param em você

domingo, 6 de dezembro de 2009

parto agora do princípio insípido estúpido
que insisto em te apalpar, te paparicar pra te incitar
excitar,
pra te partir em duas
tuas duas você em mim por dentro
por fora
nuas agora em mim porcento cem
portanto, vem
participar pra cá

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

só não faço explodir essa dor, essa dor de rasgar a gengiva,
só não mato, não sinto e não cheiro essa cor, essa cor tão viva,
que se esvai de mim num frenético sentir assim que se vai
só não faço porque não posso, não sai
não posso porque realmente não faço e não sinto fazer
não quero fazer doer
quero gritar enfim, quero colocar esse fim aqui
sem querer finalizar em mim

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ao calor que arde

hoje eu só preciso chorar
como a música que arde meus olhos vermelhos
hoje eu só sei mergulhar
meu copo no corpo sujo do espelho
como cada dente amarelo que espero lhe mostrar, lhe sangrar, lhe cortar
e esperar a revoada de pombos famintos
desfilando na praia sua raiva
ao me calar em pleno sol de domingo
destilando na raia sua praga
calço meus sapatos e insisto em encobrir seu corpo
e descobrir minha roupa
em surdina, ao calor de meio dia e pouco
agora beijo sua boca
acordo do maldito sonho medonho

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Narciso, conscientemente, cisalhou seus punhos serenos,
Esperando sabiamente seus poros explodirem,
Quais estrelas que sobem e descem,
Quais segredos que se escondem e crescem.
Esperei o soco narcisista.
O soro na vista.
O sal sanguíneo conciso descer e cicatrizar.
Incapaz de cisalhar o siso, cerrei os olhos e sussurrei:
Isso saiu e esperei.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Trama ao Lusco-fusco

Lusco-fusco me assusta de luz
Sem foco, diluído, azuis
Cometas quentes
Quais sóis em dias nus
Em corpo de chamas
Fazendo jus ao que amas: Cidade-luz

Tu és uns quase outros
Outros quais um
Que anos-luz, pôs a dois
A cama de iluminada trama
À luz de sombras insanas

Suspeitas silhuetas
Quais teus seios de proveta
Ao som do sossego
Ao silêncio feito a dedo
Tu és o que sabes: Como luz

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Seria mais fácil
Eu, rapaz de muito ferro e cálcio,
Com o sange pulsando no Lácio,
A curto tempo e espaço
- qual as quentes chuvas de março -
Esperar a moça pegar meu braço,
Me perguntar sobre meu traço,
O porquê da escrita de aço,
O porquê de todo esse embaraço,
Daí eu finjo a cara que faço
E acabo por dar-lhe um amasso
E ponho fim nesse encalço

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

vida e morte como boiada

quatro.
pelos quatro cantos que ando
espelho parlas,
espalho pelos, meandros
escuto espadas cortando palhas
e as empilhando em meu fim
de três em três
três.
como refém ridículo tresloucado
tal qual um roedor-de-dedo-cortado
recolho minha rês,
reorganizada de três em três
ao prever o que virá depois
dois.
vistas doídas e dormentes
sei que serão endiabrados dias de enchente
pois ponho meus dois olhos
durante o devir dos bois mussum
um.
um nascimento num sótão, no sertão
nalgum lugar qual ninhada de falcão
tão longe, em canto nenhum
tão só em solidão

sábado, 7 de novembro de 2009

a arrogância e prepotência caminham ao morder da língua, no trilho do trem, nos pés a caminho do abraço. a ira é cuspida, mas na real aquilo ali não é nada. se julga um ser por um ato, por um fato. somos todos arrogantes e prepotentes. não desista.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

traduzem-se no que se dilui
se consome e some
se mostram sãos sobre os insanos
tão humanos o são
sentimentais da cabeça ao chão
sem saberem que o não
é tão bom quanto o sim
simplesmente homens
quando deveriam ser trens
no ir e vir da multidão
a correr
correr sem fim

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Olho na parede sem foco monocular

o olho olha parede em foco monocular
o molho ocular olha parede sem foco
melhor focar os óculos na parede
que molhar na parede sem óculo focado
olho a parede focada em monóculo
parece folheada de olhos molhados
molha parecendo folha molhada
olha parecendo molhos de folha
foca na parede olhada por molho ocular
olha como parece folha de molho
olho como parece que olho melhor
melhora que parece óculo
óculo molhado pelo molho na parede
olho olho monocular
parece parede molhada sem foco

parece que o foco foi para parede molhada que olho
olho
olho
olho
incrivelmente
sinto como se eu pudesse olhar para mim todos os dias
e falasse:
eu choro mesmo porque eu quero

mas só sinto

domingo, 25 de outubro de 2009

te vi e te vendei
tua vulva voraz me devorou
te vi e te vendi
tua selva sagaz me sugou

te vi e te vivi

Vendo e Revendo I

vendo-a desnuda
quase muda
em inquietos soluços
que me compenetravam em sua alma
pude rever, em minha vista turva
a curva
por sobre a curva
traçada por mãos afáveis

vendo-a desnuda
quase muda
em inquietos soluços
que me compenetravam em sua alma
pude revender, sob minha vista turva
a curva
por sobre a curva
traçada por mãos insaciáveis

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

em cada parte de mim

por que me contorço,
me retorço,
distroço meu traço
por que me estrago,
me estraçalho,
e caio
do rodapé ao cabeçalho
rodopiando pra caralho
de cabeça partindo o raio
ou o raio que a parta
eu que estou farto
de tanta falta
de contorção
estou um caco
me falta coração
me sobra coração
sou braço e sou mão
sou pé e sou chão
mas me faltam partes
me faltam sãos
que olhem e molhem
meus prantos aos quatro cantos
pois sou todo sopro arredio
sou todo arrepio solto
sou pedaço de inteiro
sou um inteiro pedaço
despedaçado e colocado
em cada parte de mim

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

como tocar
se sempre tremo quando dorme?
como dormir
se sempre me toca quando tremo?
como tremer
se sempre durmo quando me toca?


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

sede

olho o buraco na parede
parece verde
parece verde
fito o retrato da parede
parece rede
parece rede
olho-a encostada na parede
parece sede
parece sede
sede
sede
sede.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

tudotemmesmoqueserregradocolocadoimpostofeitosoufeitodefeituradefeiuracaiboenaocaibomaisemmimetudotemetudoinsistentementetemumfim
pulsantepulsantemetornomenosobviosemacentoscomaleiturasendoesforçadaaqui

terça-feira, 29 de setembro de 2009

madrugada morna

sentado, rente ao horizonte,
que limita meus olhos pequenos,
percebo verdades aos montes,
oriundas mais ou menos
dos leitos de que insisti em sorrir
porque quando estou com sono, sorrio
ao esperar o que há de vir
meus pés quentes pisam na areia morna e no rio
não sou lá grande filósofo, mas devaneio sim
procuro, sozinho, pedaços soltos por cá
- espero um pouco mais de mim -
mas acho mesmo é que vou me deitar
esperar o dia raiar e dormir:
sem me lembrar do fim

domingo, 27 de setembro de 2009

Uma Dama Deitada na Cama

I
Uma dama deitada na cama
Dorme profunda e vagarosamente
Observo-a com a calma de uma serpente
Em bote-surpresa na grama

II
Quando eu ia dormir
Me deparei com seu sorriso e seu olhar
Quem disse que consegui
De fitar essa dama, parar?

III
Ela dorme feito uma bobona
Ela dorme como uma babona
E eu sou um bobão
E mais: um babão

IV
Mas será que ela vai acordar logo?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Vai, vai logo!
Sai, sai logo
Qual lágrima que arde aqui
Descendo
Escorrendo
Fica, fica aqui

terça-feira, 22 de setembro de 2009

cálculo renal

obs: cálculo significa "pedrinha" em latim.

gaiola presa na garganta que molha
molha e arranca pedaço de orelha
que rói e é roída
é foda ser um louco puto cheio de ferida
é foda ser um pouco mudo alheio à vida
gaiola prende a garganta que olha
olha o céu arranhado a todo tempo
torta arquitetura tarada por momento
tração, flexão, compressão
me sinto sendo impulsionado a falar: puta que o pariu, que merda é essa?
essa porra que me corrói os olhos de raiva e pressa, essa porra que me vira todo às avessas.
essa engenharia de quinta que diz ser arquitetura de primeira
me faz enxergar outra coisa a não ser uma coleira
que postula e rotula,
mede e fede,
algarismos e idiotismos,
que raio de ciência é essa que me assusta, me mede, me calcula, me chuta
que raio de ciência é essa que só sabe traduzir-se
como se traduz nos rins, a pedra bruta?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

verdades

abri a boca: gritei.
não procurei fitar um novo horizonte.
quando eu grito: grito pra todo mundo me ouvir; explodo.

não tenho mais verdade. meu chão é minha verdade.
não tenho mais corpo. minha alma é meu corpo.
não tenho mais um vermelho céu. tenho-o multicolorido.

quando eu grito: grito e gemo. não quero saber o que me acontece.
passaram a segunda,
a terça e a quarta,
a quinta e a sexta.
passaram alguns sábados, alguns domingos.
eu observava agora minha nova forma de rimar,
observava com gosto minhas novas verdades.

eu cresci como um menino bobo e crente.
aquele que acredita no céu, no amor, na aventura.
eu me tornei um homem bobo e crente.
aquele que acredita no céu, no amor, na aventura.

será mesmo que cresci?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

dor de garganta

mãos trêmulas, agasalho. são lentas as preces. dói pra caralho. sem capacidade de sentir calor. agora tudo o que preciso é de um cobertor. um cheiro, uma quente cor. me imagino com um balde de água quente na cabeça; me imagino num vulcão e quero que a lava desça; me sinto sem energia. arrefecido. tudo aqui arrepia. inerte, mal trapido. constato o fato consumado: tenho frio, me bato e ardo.

domingo, 13 de setembro de 2009

Olhei-a como quem admira. Mira e acerta. Acerta com o coração batendo forte. Me fazia tremer as bases nossa transpiração. Não sei dizer. Não sei dizer o que em mim me faz sentir mais forte, gigante, esperto. Um bobo feliz. Um abraço. Um abraço que me abraça. Me abraça todo e me faz sentir que o momento é a coisa mais importante da vida. Que a vida é a coisa mais densa que se tem num momento. Olhei-a como quem admira. Mira e acerta. É como o ar que repete o sopro nasal. É como o ar que eu sinto de perto. Esperto que sou. Esperta que é. Olhei-a como quem admira e mira, e acerta. Acertei.

Serpente

Entre
Em minha alma latente
Cheire, olhe, experimente
Pulse compulsivamente
Suba qual adolescente
Que queima rente
À rima presente
Pungente

Espere
E sente
Seja onipotente
Concomitantemente
Ao inconsciente carente
Que despretensiosamente
Se faz gente
E sente

Olhe
Invariavelmente
Se atente ao repente
Que de repente o vertente
Será semente potente
Possivelmente
De outro ente
Doente

Seja
Somente a enchente
Que preenche meu corpo descrente
Qual brasa ou aguardente
Meu líquido entorpecente
Que sempre incandescente
Desce quente
E mente

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Procurei

Ora, mas agora, agorinha
Eu procurei
Por ti, novamente
Como sempre,
Como sempre faço:
Em cada esquina,
Cada quina que esbarro,
Em cada droga,
Cada guimba de cigarro,
Cada foda,
Cada experiência mal sucedida,
Que, em seguida,
Ia sempre embora
Como se eu fosse cuspida
Como se fizesse uma hora
De quando me deixou perdida

Procurei por ti em meu seio casto,
Em meu ventre farto,
Te procurei alucinada,
Te procurei alienada,
Te procurei na dor do parto,
Até em cama de gato,
Te procurei falante e calada
Te quis toda em todos quartos
Seca ou molhada
Ou só de meias três-quartos
Mas nada
Nada me fez te achar

Hoje não sei mais o que fazer
Não tenho mais o que comer
Não tenho mais o que dizer
Ou crer
Não tenho mais o que saber
O que sofrer
Hoje tudo é só passado
Mas acredite: ainda ardo
Só de pensar em você

De Fronte Aberta

Defronte o encontro
Em que me confronto de frente
Frontalmente
Me desnudo em nu frontal
E escondo
Desbundadamente
Abundâncias e coisa e tal

sábado, 29 de agosto de 2009

Sente

A água quente derrama fogo
E inunda minha alma
Molha-me todo
Espera e pára
A água quente derrete meu corpo
E minha alma salta
Cria forma num sopro
A sorver em febre alta

Molho meu olho quente
Não sei se pelo fervor da água
Ou a ardência latente
Não sei se pelo furor da mágoa
Ou o coração dormente

Olho meu olho molhado qual enchente
Só sei que minha única arma
É aquilo que se sente
Só sei que o que me cala
É agora e sempre

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

acalma coração.

Satisfação Fúnebre

O meu tato abre nova fresta
Pra eu escolher o meu alvo
Apontando o medo na minha testa
Antes mesmo de estar a salvo

O corpo que eu toco não me toca
Procuro meus meios de detê-lo
Quase cinco horas e não volta
Só me resta agora desespero

Vejo ao meu redor mas não enxergo
Uma outra forma de sorrir
Já sei que me deixa ficar cego
Sinto que a hora de partir

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Amargo Deleite

Não sou como rês
Que ecoa pelos cantos
Eu só como três ou mais
Filetes de pranto
Conquanto eu quisera
Um pouco mais que já era
De pedaços em meu olfato
Filetes no prato
Degustando cautelosamente
Cada dor que sentira no ato
Em que, emblematicamente, me bato
Me mordo, me mato

Não só como rês
Como também vez ou outra
Um bípede de quatro
Em kama sutra
Que analiso meus olhos fartos
Cansados de gritos e tatos
Ou mesmo truta em outros garfos
Facas, colheres

Sinto fome, pois,
Sinto sede depois,
Reponho a ledo engano
Aminoácidos, transformando
Os braços flácidos em metano

Mas, de mês em mês
Sou como rês à três,
E suo outra vez
Quero todo dia um pouco de verdade
Pra um pouco tarde
Esperar um só um dia
De todo dia que arde
Um dia e pouco
Ou meio-dia

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A imagem que me toca

Fotografia: Thalita Covre http://www.flickr.com/photos/thalita_covre/

Vou ao encontro desse vento despretencioso. Balançando tão sutilmente os cabelos, quanto meu coração. Paz. Seja sobre a grama fresca e limpa. Seja pegando esta menina no colo. Que anda sem pressa. Sem pretensão. Sem a pretensão de ser o centro das atenções. Não há um centro. Há um conjunto de importâncias. Seu vestido sutilmente levado pelo vento. Seus cabelos esperando o calor chegar, para tocá-los. Mas não há calor. Neste momento há paz. Há o céu azul. Azul. Bem azulzinho. Espero a caminhada da pequena em busca de novas fotos. Como as tiradas pelos também fotógrafos, ao fundo. Fundo não menos importante. Dão a homogeneidade e horizontalidade dos meus olhos. Me guiam. Me fazem perceber que uma imagem não se faz de um centro belo. Uma imagem se faz com paixão nos olhos e percepção singulares. Obrigado por me tocar.

Gabriel Ramos

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Espero por mais um dia quente, sempre quente, intermitantemente, nos dias frios em que me aqueço e me esqueço de poder contar quantos dias quentes vou viver. Saber ter ou ser um febril ao arder do azul anil pelo dia frio. O dia a fio. Conta-gotas.

domingo, 9 de agosto de 2009

respiração ardendo uma na outra, fogo. queimo os olhos foscos. rio. por um fio a navalha que corta me cortou, me fez doer, doer de sentimento bom. que dá e dói.
ranhuras que ardem, calafrios. sorrisos. nada do que foi, era um ontem. era por arder, ser a ânsia de ser.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

tanta sede de ser, querer ser, ter, ver. ser como o mar que balança e agita, que expulsa e grita, cada suspiro e anseio, cada viagem e passeio. preciso ser como o ar que rasga a voz e explode aqui dentro do peito, de vontade, de saudade. talvez tanta vez quis ser um outro ser que não cabia mais em mim, mas que sei, cabe sim, cabe sim aqui dentro ainda um outro novo rapaz. tanta carícia, tanta preguiça, tanto medo, tanto sentimento aqui dentro. na verdade só quero algo novo, algo bobo, algo que simplesmente me faça rir, me faça dizer que vale a pena. me faça ver que mesmo pequena, possa ser única e por ser única me fará único. não me importa o que pareça: cresça e aconteça. porque aí sim, tanta sede de ser, tanta vontade, saudade, serão sinônimo de verdade.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Ideias vindo, indo, explodindo
Estão que não se cabem,
Não se moldam, não se tocam,
São palpáveis,
Tocáveis.
Tocam minha alma,
De tanta explosão.

sábado, 25 de julho de 2009

Na Lápide

Não sei fazer porra nenhuma de rima.
Seja escrevendo por cima,
Seja escrevendo por baixo.
Mas na lápide do macho,
Diga que quis escrito a obra-prima:
"Com muito gosto, despacho
Este cabaço, do cruzamento da Cafetina
E do mardito, Diacho"

Sentimento

não sei dizer
o que em mim
se torna meu
intrínseco a mim
fonte do meu ser
e da minha explosão de seres
outros eus
minha característica
por tanto sentimento

Considerações de Uma Gestante

Um ser
Em mim
Outro

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Culto: aquele que cultua sua cultura

Enga-nação

quero mais um rostinho bonito
pra eu me deliciar
com os erros de concordância
e solfejar acordes dissonantes
intrigantes,
instigantes,
impossíveis

quero mais uma preparada
pra eu me acabar
com a vulgaridade fudida
estampada,
estuprada,
extraída de sei lá onde

gosto de gostar disso
de fazer parte disso
ser cúmplice
da nova enganação
que regurgita e cospe
as lindas melodias neotribais

terça-feira, 21 de julho de 2009

Mau

vou te mostrar o quão intenso sou,
minha estupidez,
minha raiva.
vou saber dizer aonde vou
o que sou e mesmo doendo,
queimando aqui dentro do peito,
com vontade alguma ou
sem vontade nenhuma,
nem desejo,
nem ensejo,
vai sentir o que te faz me querer
em outro eu aqui não presente.

vou esperar sentado,
antes que tudo que ponho pra fora
vire flor e eu acabe sendo chamado de bonitinho
e não mau.

domingo, 19 de julho de 2009

Único

me espera, a sorte, a vontade ébria, forte
me espera, me esquece,
atrás da dor, o açoite.
me espera, me mostra outra nova cara de novo
pra eu conseguir outra nova cara
esquece a rima, a flor, a dor,
não me importa o que você ache ou não agora

me cospe, me deixa, me chama de seu
de dela, de daquela outra, de outro,
me chama de outro novo amor
me cospe,
me fode,
me deixa viver, respirar,
me engana, quero ser enganado,
só não me chama... não me chama de viado,
de puto, de outro novo mundo, de mudo,
de alheio a tudo,
me chama de tudo,
menos de seu.

me esquece, me solta, me ouve,
não sei porque volta
porque tenta escutar meu último movi-
mento.

me mexe, me sacode, me grita, porra!
me xinga... só quero que você sinta... que eu quero ser único

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Canção de ninar

Corro impulsivamente, atravessando os carros, num corre-corre frenético;
Quase não caibo em mim de tamanha velocidade,
Espero a moça no sinal e espero outro sinal, atrás de outro, verde, amarelo, vermelho (...)
Eu quero ser um sinal a ser esperado
Quero desdenhar sinais,
Correr por sobre o muro e gritar "Viva o trânsito"
Quero mijar nas costas do guarda que não tem culpa de nada
A não ser do apito irritante
É o caos
A contemporaneidade
Foda-se.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Eu

Sentimento de ser e estar,
querer causar,
acontecer, querer um pouco mais
um pouco de se sentir especial
um pouco de ser especial
e se não me sentir ou ser tal,
sentir a intensidade de cada olhar,
cada pequeno solfejar de uma nota,
cada gotinha que consigo sentir,
amalgamar a meus dedos,
e me juntar a outros pequenos eus, causados e implodidos,
diaramente, instanteneamente;
talvez uma convulsão de tantos eus que não caiba num só uma crua definição;
sem propriedade pra me segurar numa só, prefiro me apoiar em todas ou em nenhuma,
porque o todo é perto do nada,
ambos partem do mesmo infinito,
e estão um infinitésimo próximos, mesmo que inconcebivelmente,
ou paradoxalmente se embatam;
tantos eus acabo por me somar a todos (ou mesmo diminuir-me),
negligenciando toda complexidade de um ser;
sintetizando todo-o num só.
Porque tudo necessita de uma justificativa, definição, forma, concretização;
a concepção da ideia faz parte do sexo cerebral e não precisa ter o físico para existir, precisa?

Uma

Um dia
Se for um
Para cada vida
Que se foi uma

Por cada um
De nós
Que se é único

Uma, um, uns
Todos vãos
Esperando
Uns e outros

Um pouco
Menos de todos
Nós

Pouco mais um
Em nós cada
Um de todos
Por outros nós

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Palavra

Rio que se põe pelo pôr-do-sol
E se dispõe fluente às margens da língua
Sinto desobedecer sua lógica
Pois não me disponho tão seu
Quanto me faz ser meu

Tropeço em sentimentos desastrosos
Levados pelo rio que me trouxe
Sem a menor pretensão

Queria morrer como ele
Que me fez ser mais afluente da vida
E correnteza de todo coração

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Deixa pra lá

Vem
Eu vou te ensinar o que fazer
Uma ou duas vezes sem pensar
No que daria ou não certo
Vem
Pra mim ou pra outro alguém decerto eu
Esperto, inteligente, feito o outro, que não eu
Vem
Pra mim todo o seu rebolado
Sem transfigurar ou esquecer toda melancolia
Não me importa hoje o que se passa na tevê
Só sua cara de má, meu Zappa e sua alegria
Hoje quero um amor leve
Sem a densidade da verdade ou mentira
Vem e esquece
Outros seus
Que eu esqueço as minhas
E invento de ser seu

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Acho que hoje
Eu tenho algumas coisas pra dizer
Meu coração não cabe mais em mim
De tanta vontade pulsando
De tanta verdade ardendo
De tanta saudade queimando
De tanta maldade surgindo
De tanta adiposidade doendo
De tanta banalidade expondo
De tanta austeridade roendo
De tanta brutalidade ferindo
De tanta desigualdade assombrando
De tanta crueldade ranindo
De tanta enfermidade corroendo
De tanta fragilidade aparecendo
De tanta mediocridade matando
Meu coração não cabe mais em mim

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Valdrada

do teto ao chão
forma uma vontade de ser
refletida
em toda vontade de ser
valdrada

doce flor da língua
que arde
cabe-se de rima
pouca
tanto sentimento porque se vai

dos corpos se amando sem se ver
sem se ter e ser
unicamente só
cidade somente nossa

toda vontade de se amar e estar
unicamente só

segunda-feira, 29 de junho de 2009

As cores

As cores
Marcam meu peito
E saltam de meus pulmões
Insulflando minha alma
De vontades de ter
As cores em nós
Atados
De mãos e pés
Atritados
As cores
Esquecem-se de ser
Minhas fugas diárias
Aquecem meu dia de fúria
As cores monocromáticas sensuais
Por sobre minha cama
Me acordam num dia nublado e cinzento
As cores policromáticas e audaciosas
Querem minha carne
Agora

Nossos

Para destacar-me
E engendrar-me em outros eus
Tantos mins pelos quais percorro
Através de muitos seus
Que me faço todo único
Pouco meu
Prefiro tentar impedir-me
De tantas tentativas
Poucas nulas
Tantas curvas
Por que me traço,
Estraçalho,
Esculpo,
Escondo,
Num ir e vir frenético
De tantos meus, seus, nossos, vossos
Corpos tatuados uns sobre os outros
Confesso gostar de tamanha velocidade
Grosseria, estupidez, sensualidade,
Me imagino ser seu por outro meu
Sentimento de ser
Todo seu

domingo, 28 de junho de 2009

Meu rosto febril
Espera um aconchego doce
Um abraço tenro
Para todo o sempre

domingo, 21 de junho de 2009

forma se reforma
se postula e se modula
se intitula e se inventa
outra fórmula pra forma
se trafegar pelo trâmite
tráfego aéreo
pairando por sobre mim
caindo como cai cai um balão
aqui na minha mão
mão boba, trapaceira
vai e reforma
e forma outra fórmula
mudando e modulando
a vida
feita de reforma e forma
"- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo..."

==

Toca-me, lua
Que decerto tarde
Serei flor de doce arte
Espera uma ou duas

Vezes e vezes
Quis me tornar sozinha
Com vontades e deveres
Dores de menininha

Eu quero ser a mão
Sobreposta a sua mão
Mas não menos, posto isso,
Não mais que feitiço


quarta-feira, 10 de junho de 2009

Eu sinto um sorriso atrás do outro. Passa dia. Passa dia. Passa dia.
Eu quero um sorriso atrás do outro.
Eu só quero sorrir.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

ao sentir o quão profundo
era o que tanto busquei
descobri tão profano
ser o que outrora vi
- como se numa quimera -
transpassar lado a lado
como um feroz felino alado
em negro dia de primavera

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Bobo

eu sou bobo
sou extremamente bobo
fico imaginando quando eu crescer
o que vai ser de mim

não quero crescer
prefiro continuar bobo
a me imaginar assim

um homem velho e gordo
reclamando aos quatro ventos
sobre aposentadoria e impostos

eu sou bobo
minha natureza é assim
você bem sabe o que se quis dizer
se pensou em saber sobre o que se diz
você só sabe dizer o que se quer dizer
quando se soube dizer

domingo, 24 de maio de 2009

Avós do povo

cada dia mais dia pra contar
um segundo de cada vez
enquanto eu invento de cantar
uma vez de cada dia
todo pai nosso e avemaria
todo sermão e profecia

uh, ande na linha e leia
nas entrelinhas, a voz do povo

um dia a mais sem contar
nas contas dos trinta dias
e trinta noites a cantar
uma vez a cada dia
sem contar na tristeza e alegria
sem cantar a esperança e folia

uh, ande na linha e leia
nas entrelinhas, a voz do povo
eu vou
a cada instante subir
uma nova vontade de ser feliz
e mesmo que não caiba em uma estrofe
eu tentarei sambar cada vez mais veloz
toda a vontade que tenho de sorrir
sem ser interrompido
a todo sempre

segunda-feira, 18 de maio de 2009

me vi e vi minha alma
transbordada de felicidade
querendo crescer esse menino
que sabe lá deus quando
deixarei ir
contar as estrelas do céu
e dizer bom dia à vida
você é sua página da internet

terça-feira, 12 de maio de 2009

prece

eu quero só sentir
cada gota que se deixa arder
nesse corpo
em brasas
eu quero só deixar escorrer
toda a solidão desastrosa
mas nem tão desastrosa assim
que não seja indolor,
que eu sinta todas as verdades do meu ser,
que eu não espere da vida o tapa
mas que eu corra atrás dele,
dia após dia,
que eu me mostre capaz de conquistar
e de ser conquista,
sem menosprezar qualquer doçura de olhar
que eu espere um pouco menos de mim
pra eu fazer da expectativa piada,
pra eu mostrar que posso ser grande e valente
não mais tanta coisa doce,
mas não tanta coisa amarga,
que eu saiba amalgamar cada pequeno aprendizado
e fazer dele,
não mais que uma cena de cinema,
mas uma realidade pertinente,
mesmo que não haja no mundo uma realidade sórdida,
que me faça ver tudo o que há em mim
mesmo que eu saiba ver o quão profundo é
cada gesto ou palavra com que movo meus lábios,
mesmo, mesmo assim eu quero
que tudo isso sirva
pra eu dizer que vivi.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ansiosamente
meu coração pula,
por um contínuo sopro,
sem sequer notar que há,
mesmo que em outro tom,
algo tangível e talvez palpável
mas que não sabe enxergar

segunda-feira, 27 de abril de 2009

uma estrela que se move
em turva vista
que, do mais íntimo sentimento,
acaba por deixar e sentir

sentir e amalgamar nossos corações

quarta-feira, 22 de abril de 2009

minha mão
ah, minha mão
sabe quais dedos se encaixam nela

eu só preciso encontrar

Divagação Unilateral Sobre a Coexistência Entre Existência e Vida

quem nunca viveu sabe viver outra vida
que não se chama vida,
tampouco morte ou o que seja
quem nunca sentiu existir
não sabe o que é a existência
mas por coexistência a outra vida
que não se chama vida
pode existir ou algo que o valha
por outra existência
que por insistência,
sei dizer que não viver o existir
ou não é o existir o viver
ou o que seja equivalente
nesta ou noutra vida
nesta ou noutra existência
vivendo ou existindo

Voo

vou
multiplicar-te os olhos mil
escapulir-te da mão viril
esperar por toda a vida a fio
sem mesmo a certeza do fim

vou
especular-te o furor carmim
meticular-te à medida assim
caminhar pelas suas pernas cruas
galgar numa ou duas danças nuas
evidenciar cada cicatriz da lua
que insiste em esvairir-se de ti

Sim ou Não

não, eu não acredito tantas dez mil vezes assim
como que se por vezes afim
eu quisesse por à prova o ardor do coração
outrora dor com beijos e mãos

não, eu não credito tantas dez mil vezes assim
outra vez eu disse que sim
mesmo que eu não quisesse a prova do ardor do coração
embora flor e poesia à mão

ai deus, por tanta vez que sim
por tanta vez que não
será porque tanta vez eu pensei
que não teria seu sim
ou que tanta vez eu pensei
que sim, teria seu não

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Até

por outra fresta, rasga o corte
e deixa a sorte fazer a festa
chama outra nova vida de nova
para outra velha ferida ser posta à prova
põe o tempo como questão
a falta de tempo como indecisão
para tanta pouca vida ser indigesta
se estingue a pressa, a dor
e me diz até breve, amor

domingo, 19 de abril de 2009

destruirem-se vidas
para se venderem segundos de ódio
palavras ao ventos sopradas por malícia
o mal cospe sua ira quando tocada

sábado, 18 de abril de 2009

abraça a solidão: dá-me um beijo!
para qualquer lugar que eu vá,
ensaio uma caligrafia mais confiável
para uma dama me convidar para dançar.

assusta-me e me desalenta, mas me orienta,
faz um pensamento alto, ensejo,
para mim que tanto vejo, do nascer ao pôr do sol,
a vontade de levantar e ser.
por minhas mãos amigas, espero.
não me queixo de ter ou não verdades para assimilar,
não me preocupo de ser ou não uma verdade similar.
não é que eu não saiba ser uma verdade;
é que cada gotinha de saudade se transforma em vontade de ser o
que talvez era para eu ter sido logo.
mas por prepotência, medo ou descaso, deixei de ser.
há muita coisa engasgada aqui:
as mãos pedindo outras;
prosas pré-prontas para o vento;
um puta calafrio;
e uma vontade ser único para alguém
construo prosa e verso
com irremediada vontade de gritar
a todo o universo
o que sinto e quero sentir
me prendo a rimas ou não
a segredos também
e só sei dizer isso
através dos dedos

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

é de tempo e sei
que pelo tempo que foi
não é de ser único
não faz dele
vilão de si
não faz de nós
um beija-flor no céu
pairando sobre a alegria

Pôr o Ar

como se viver fosse mais do que crescer
multiplicar e ser
esperar dar a forma e insistir tentar
sentir a verdade, dos dedos se esvair

veja como veja o ar transpor o ar

como se tentar estivesse perto de conseguir
continuar e ver
querer poder assim e tentar insistir
ter à mão, das tristezas se esquivar

seja como seja o ar repor o ar

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

eu por me engendrar em mim
por outros mins e afins
acabo por fim,
sem querer,
a ver outros,
de formas estúpidas
de formas diferentes,
a que outros hão de se engendrar e fim

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Contém tudo o que você desaprova. Um sentimento impróprio, confesso. Contém tudo o que você se mostra capaz de deter e reter. De certa forma, perverso. Falta-me ombridade. Um pouco de devaneio. Acho-me incapaz de compreender mazelas tão pequenas humanas.
Não quero ver no ser o outro ser que me assombra e traz sujeiras e vícios. Os homens têm por si a capacidade e a audácia de se acharem perfeitos.

Dúvida. Nascente e crescente da própria loucura do pensamento. Ela só nasce através do saber, mas ela mesma mostra o não saber. O espaço perde a capacidade de agir. Do modo que, quando temos devaneios, simplesmente a conformidade do espaço em si, se perde.

Perdi-me nela, por agora.

sábado, 31 de janeiro de 2009

O Grão de Areia

O grão de areia
Vai-se pôr em todo mar
Feito o rabo de sereia
Em inveja à Iemanjá

O grão de areia
Pela discreta aparição
Não é o que semeia
Inquieto pela imensidão

O grão de areia
É o pois, o quando e o embora
Em que se esconde a teia
Perdida no infinito e no agora

O grão de areia
Cobre-se pelo outro grão
Depois pela maré-cheia
Por fim, pela solidão

O grão de areia
É fim, é infinito
Do universo à estrela
Sentido e dito

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Espaço por ser
Para ser
Outro ser
Sem espaço
De ser

domingo, 2 de novembro de 2008

Palmo a palmo
Incontáveis gotas
Que se multiplicam
Loucamente
E inundam a alma

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Como um alvoroço,
Pessoas bonitas se examinando,
Tateando
Procurando à luz,
Marcas,
Cores,
Frutos

domingo, 5 de outubro de 2008

Razão, Cruel Razão

toda trama traiçoeira
segue rasgando, sugando
todos olhos, ouvidos
despistando, piscando, pescando
dos passos passam rápidos
pisando pavorosamente
mentiras mundanas, mesquinhas
esquinas estranhas, infindas
infinitas, ínfimas, incapazes
causando corrosão
à razão
cruel razão
Tua íris
Cor do escurecer do céu
Enxerga minha alma
Sem qualquer palavra

sábado, 27 de setembro de 2008

Lua Ilhada

Lua ilhada além-mar
Leva livre a rima rouca
Disritmada e sem par
Rasga e dói à língua louca

Luz ao e ir e vir de tua boca
Assusta e espera
Iluminada triste à solta
Esperando por devaneio ou quimera

Lucubra por ranhenta peçonha
Ao entrar e sentir dor
Ferindo aos olhos da estranha
Ou da bela criatura-flor
Olhos marejados

Pelo fim mal visto
Pelo meio mal criado
Pelo início maldito
Abri meu peito
Em meio a tanta forma mais abstrata
Hão de arranhá-lo e destruí-lo
Coloquei como subserviência o início
E como pretexto de sorriso, o fim

O corpo expressa-se mais belamente que as palavras

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Traduz em tudo o que impede de ser
E por tanto seguir, vai-se,
Feito a última coisa bonita que foi impetuosamente dita
E se tanto portanto ou porventura
Acabasse numa certeza
Não mais ébria

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Rasga o peito
Ar
Rasga de raiva
E dói

sábado, 23 de agosto de 2008

Faz Deixar Viver

Quero o beijo mais intenso
Que, sem respirar, eu suspeite ser
O ser mais feliz do mundo
Quero mentiras jogadas ao léu
Sorrisos espalhados no ar
Olhares por todo o quintal
Quero estar embaixo da nuvem mais carregada
Dentro do carnaval com tantos pierrôs e colombinas
Sobre seu colo, numa tarde de domingo
Vendo filminhos bobos na tevê
Quero todas as coisas mais bonitas pra você
E todos os seus suspiros pra mim
Ser como a bailarina que desliza livre
Ser como o fogo que arde sem ser palpável
Quero compor a poesia mais bonita
Ao menos que o seja pra você
Por que de resto
A felicidade nossa toma conta
E faz deixar viver

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Já Se Foi Alegria

Quando você me pediu para ser
E se foi tão fria
Não disse nem porquê
Nem o que queria
Só disse para eu seguir
O caminho que eu escolher
Não sei se aqui
Insisto em dizer
Que não foi nada demais
Não foi nada assim
Que não seja capaz
De colocar um fim
Um ponto final
Ou reticência
Mas do seu carnaval
Não vi inocência
Só senti dor
E disritimia
Agora, meu amor
Já se foi alegria
Já se foi alegria
Já se foi alegria
Instinitivamente
Bani do meu pluriilusório sentimentalismo
Os verbos intransitivos
Completamente intransigentes
Intransponíveis e outros is mais belos
Inexoravelmente
Sentimento
Engolfa-se de tanto ser
Engasga-se de tanto ter
E se caso
A partícula menor
Que seja aquela que pensas
Ou a que ousaste pensar
Encontra-se deteriorada
Dedetizada e aniquilada
(Como a filoptosia das bromélias)
Acabarei sabendo o que sinto
E só

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Eu passo a mão por meus cabelos
E quisera eu que qualquer fio
Fosse mais um feito do orvalho
Fosse mais um feito da saliva
Fosse mais um feito de pólvora

Eu ando apressadamente
E você não se comove com minhas oxítonas
Você não se comove com minhas besteiras
Você não se comove com nada

Sinto o vento passar como passa uma navalha
Ao abrir e expor a dor

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

a ruir o resto da dor
que arranha e rasga o corpo

sentimento que se esguia e espera

a ruim dor que resta
que abre entranha e arde rouca

espera o segundo surgir
adensou-se ao sentimento
o peso bruto
consumado ao luto
do irremediado pensamento

por mais febril que suspeite ser
a efemeridade do movimento
preferiu-se chamar desalento
ao contrário do que se dizer

adensou-se ao coração
a marca única do maldizer
prefere-se deixar a pensar o ser
do que prever de antemão

por mais ébrio que aparente se mover
é ligado ao ser que se apresente
feita da dor eterna e onipresente
como a megalópole pós-moderna a crescer

quarta-feira, 30 de julho de 2008

toda tarde
arde louca
toda sede
cede a boca
toda pele
anda à solta
toda mão
quer a outra
toda vida
grita rouca
toda vontade
grita rouca
toda vida
quer a outra
toda mão
anda à solta
toda pele
cede a boca
toda sede
arde louca

toda vez que você me deixa
penso em fazer da vida música

domingo, 29 de junho de 2008

A Forma da Forma (Postulado)

boca suspensa em alto-relevo
revelo todo o suspense que se rebela
será?

sobre a conduta em questão, não há quesitos, pré-requisitos
postos em xeque, ou no colchão

consigo comer um lá com nona com mais sorrisos
do que depravados sentimentos em gasolina

não há coesão em texto quando não se sente a interpretação
que a coerção chicoteia (como multiinstrumentalização de sentimentos)

vejo somente o mazoquismo niilista da verdade
tão transpassada como verdade
que não é nada mais do que um verde mal pintado
uma nuvem sem forma
um beijo sem amor

talvez por sucumbir a tantos desejos
de ser [ou não] inconsciente
de ser condescendente
com as condicionais prepositivas
as prerrogativas mal condicionadas
os suspiros e os quilates de quem ainda pode mais ou menos tentar voltar
a ser

talvez...
por estarem no fundo febril
as palavras se perdem de tal forma que
encontrá-las se torna mérito (desmérito) propulsor

escrevo da forma tão livre
e suspeita (digna de radicalismos)
de advertências que se modulam ou se rotulam como um a mais
se for diferente ou condizente com suas pálpebras

e se metaforizar se extender a se misturar
o bonito, o diferente, o único
e se protagonizar fosse a esfera mais concomitante
com o resto da vida

sei mesmo que as coisas mais bonitas da vida
são conhecidas como rápidas

sexta-feira, 16 de maio de 2008

contrastante contrariar-se foneticamente
digo isto pela metalingugem
da reta por sobre a rima
do traço por sobre a sanha
e fez-se mar
por não ter mais o ar
porque tudo de concreto não se vê
tudo vendo armário e teto não será
nem de perto arte
nem que rasgue
a arte por sobre arquitetura
fina testura
dura estampa, linguagem multifacetada

contrastante contrariar foneticamente
é mais que bela reta, bela curva, elipsóide ou
nada
tanto faz para aquele rapaz
tanto faz para esse rapaz
seja o da rua, seja o da escola de arquitetura,
seja para aquela moça que entra e sai
somente da cantina

contrariar-se contraditoriamente é mais que aliteração
é uma poesia vasta
ou vazada
ou vazia
vaga
vulnerável

sinto por detrás da curva, outra curva, e mais outra
depois a reta, tangenciando (ou não) algo
bonito!

quinta-feira, 15 de maio de 2008


curva por só-
lidar curva mal consolidada
sinto a curva por
sobre a outra por só-
bria curva
se curvando, desenhando, rabiscando
traço pelo que
rascunhada, inibida, debochada
acha que por ser curva
se curva e vai